ARTIGOS

SURDOS/AS E O MERCADO DE TRABALHO




Surdos/as enfrentam uma evidente falta de acessibilidade no que diz respeito a formação acadêmica, o que limita a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Assim, encontrar trabalho pode ser um desafio árduo para uma pessoa surda. Ela pode ser discriminada antes e depois que encontram um emprego.


A lacuna de emprego entre surdos/as e ouvintes no Brasil é ampla e estatisticamente significativa. De acordo com a pesquisa do Instituto Locomotiva apresentada na 2ª Semana de Acessibilidade Surda (SAS), apenas 37% integrantes da comunidade surda estão inseridas no mercado de trabalho. Além disso, segundo a pesquisa, 32% das pessoas com alguma deficiência auditiva não têm nenhum grau de instrução.

Em 2015, a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) informou que apenas 80 mil pessoas com algum nível de surdez trabalhavam com carteira assinada. Apesar das melhorias na tecnologia e nas acomodações que tornam mais fácil para os/as surdos/as trabalhar e comunicar-se, as razões para as taxas de desemprego mais altas na comunidade surda variam, mas muitas vezes podem ser atribuídas às práticas de contratação, equívocos e atitudes dos/das empregadores/as.

O declínio constante das taxas de emprego na comunidade surda deve-se em grande parte a práticas discriminatórias de contratação por parte de muitas empresas, sejam elas intencionalmente ou não. Muitas vezes, há camadas de preconceito que fazem com que essas estatísticas ainda sejam verdadeiras hoje. Essas práticas podem variar desde a linguagem discriminatória no próprio anúncio de emprego até o processo de inscrição e contratação. Frequentemente, os/as candidatos/as surdos/as hesitam em revelar sua perda auditiva porque temem que as empresas os/as considerem um fardo e não os/as selecionem para uma entrevista.

Do outro lado, muitas empresas têm medo de contratar candidatos/as surdos/as, pois são frequentemente vistos/as como muito “deficientes”, ou que irão causar uma carga indevida para os negócios devido à necessidade de acomodações. Alguns podem ver os/as candidatos/as surdos/as como improdutivos/as, fracos/as ou pouco inteligentes, todos os equívocos que são infundados.

Mesmo que uma pessoa surda seja empregada em uma empresa, muitos/as funcionários/as surdos/as experimentam hostilidade ou discriminação no trabalho e por esta razão, eventualmente, pedem demissão. Alguns/mas funcionários/as surdos/as são demitidos/as sem justa causa ou processo devido, e alguns/mas são os/as primeiros/as a serem demitidos/as por causa de cortes no orçamento.

Cada empresa precisa revisar suas práticas de contratação para garantir que seus anúncios de emprego e critérios de qualificação não impeçam a contratação e promoção de surdos/as qualificados/as. Isso pode ser alcançado por meio da revisão completa das ofertas de emprego para identificar linguagem discriminatória.

Os/as empregadores/as não devem apenas abraçar a diversidade no local de trabalho, mas também devem reconhecer que os/as surdos/as podem aprimorar sua força de trabalho. O treinamento em diversidade, para empregadores/as e funcionários/as diretos/as, pode ajudar a enfatizar o valor que os/as funcionários/as surdos/as trazem para as empresas.

As empresas precisam esforçar-se para incluir totalmente os/as funcionários/as surdos/as em seus ambientes de trabalho. O fortalecimento da comunicação com os/as funcionários/as surdos/as, proporcionando igualdade de acesso às reuniões e as instruções de tarefas, os/as ajudará a fazer seu trabalho com eficiência. Prover ferramentas de comunicação empresarial digital disponíveis para o trabalho diário, é um excelente começo. Isso permitirá que funcionários/as ouvintes comuniquem-se diretamente com funcionários/as surdos/as e vice-versa.

É importante conhecer os seus direitos legais ao procurar emprego. Também é igualmente importante utilizar todo e qualquer recurso disponível, como, por exemplo, intérprete, para alcançar os objetivos pretendidos.




1 Imprensa (TV). TV BRASIL: apenas 37% dos brasileiros com deficiência auditiva estão empregados. 1 out. 2019. [S, l]. Disponível em: <https://www.ilocomotiva.com.br/single-post/2019/10/01/tv-brasil-apenas-37-dos-brasileiros-com-defici%C3%AAncia-auditiva-est%C3%A3o-empregados>. Acesso em: 29 maio 2021.


2 NASCIMENTO, Henrique. Uninassau. Educação de surdos: entenda os desafios no Brasil. 23 abr.  2019. [S, l]. Disponível em: <https://www.uninassau.edu.br/noticias/educacao-de-surdos-entenda-os-desafios-no-brasil>. Acesso em: 29 maio 2021.


Escrito por: Luã Queirós


Revisão por: Erlon Santos e Perci Leite

--------------------------------------------------------------------------------------



As redes sociais na socialização das pessoas surdas 


 Nos últimos anos, as redes socais têm crescido junto com os avanços da tecnologia, ganhou popularidade entre pessoas surdas.


Não é segredo que as redes sociais mudaram a maneira como as pessoas comunicam-se. Em comparação com apenas uma década atrás, sabemos mais sobre a vida dos outros do que nunca. Também, tornamo-nos mais adeptos da comunicação escrita e visual em comparação com a comunicação puramente verbal.

No passado, as pessoas costumavam confiar em cartas ou bilhetes para comunicar-se com outras. No entanto, nem todos os surdos tinham conhecimento da Língua Portuguesa, então era difícil até mesmo a comunicação por cartas e bilhetes para eles quando a língua de sinais não era uma opção. Com mais pessoas online, esses “métodos ultrapassados” não são mais os preferidos para comunicação.

De acordo com um relatório recente da Hootsuite e We Are Social, 140 milhões de brasileiros usam ativamente as redes sociais e passam mais de 3 horas por dia conectados a elas[1].

Para as pessoas surdas, as redes sociais são uma ferramenta importante para a sua comunicação com outras. Assim como promove a união entre surdos e ouvintes quando estes se permitem conhecer a língua de sinais.

Embora estudos como o publicado pelo Periódico Americano de Medicina Preventiva mostrem que as redes sociais podem levar ao isolamento social[2], existem outros estudos que mostram como a surdez leva a este mesmo isolamento.

Aqueles que cresceram sem audição ou fala, sempre enfrentaram dificuldades significativas para comunicar-se com o mundo exterior (mundo ouvinte), mesmo que tenham aprendido a língua de sinais.

A socialização dar-se pela interação com pessoas e participação em eventos. Pessoas com diagnóstico de deficiência auditiva, entretanto, às vezes têm tendência a retrair-se. Não importa o quão grave seja a sua perda auditiva, é crucial não deixar que sua audição afete sua vida, com quem fale e aonde vai.

As redes sociais permitem entrar em um círculo maior na sociedade e criar relacionamentos com pessoas ao redor do mundo. Elas podem fornecer oportunidades para que se conectem. Ela muda a maneira de como as pessoas interagem e relacionam-se.

É uma boa maneira de envolver-se com as pessoas, compartilhar experiências, histórias e fazer com que outros saibam que não estão sozinhos nos desafios que enfrentam. As redes sociais não é, portanto, o objetivo. É o caminho para a finalidade do encontro.



Escrito por: Luã Queirós

Revisão por: Erlon Santos e Perci Leite



[1] PAREDES, Arthur. As redes sociais mais utilizadas: números e estatísticas. 24 ago. 2020. Disponível em: <https://www.iebschool.com/pt-br/blog/social-media/redes-sociais/as-redes-sociais-mais-utilizadas-numeros-e-estatisticas/#:~:text=Quanto%20ao%20Brasil%2C%20140%20milh%C3%B5es,conforme%20o%20relat%C3%B3rio%20de%20Hootsuite>. Acesso em: 27 mar. 2021.

[2] BBC NEWS. Redes sociais aumentam sensação de solidão, diz estudo. 6 mar. 2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-39178058>. Acesso em: 27 mar. 2021.




--------------------------------------------------------------------------------------

ESTUDANTES SURDAS/OS NA CENA TEATRAL DE SALVADOR



Pensar a Pedagogia Teatral como experiência artística vivenciada/produzida por/para estudantes surdos/as na cena soteropolitana, é um movimento que encontra “alento” nas ideias defendidas pelo movimento de contracultura inaugurado por artistas brasileiros entre as décadas de 60 e 70. O sentido complexo, de contestação, de ideias que contrapõem defendidos pela contracultura (LEÃO, 2009), incitam um fazer artístico de enfrentamento à ordem dominante estabelecida.
Nesse mesmo período, Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, ao convergir com os ideais da contracultura, defende através de suas técnicas um teatro libertador, capaz de emancipar o sujeito, que consciente de seu lugar no mundo, transforma-o e é por ele transformado; onde o espectador rompe com a passividade forjada socialmente, deslocando-se do papel de observador apenas, para a liberdade de assumir seu lugar de criador seja no palco, seja na vida social. De acordo com Boal, “Todo mundo atua, age, interpreta. Somos todos atores. Até mesmo os atores!” (BOAL, 2007).
O Teatro, ao falar especificamente do ambiente escolar, desde sua mais remota existência foi pensado dentro de suas múltiplas categorias, modos de produção e interpretação como territorialidade do sujeito ouvinte. Mesmo em discursos nos quais não se faz uso do discurso verbalizado, o seu fazer é indiscutivelmente atrelado ao usuário da língua oral-auditiva. Diante disso, como possibilitar aos estudantes surdos uma experiência artístico-educacional em teatro? Nas palavras de Spolin (2010), “A oficina de Jogos teatrais oferece aos alunos a oportunidade de exercer sua liberdade, respeito pelo outro e responsabilidade dentro da comunidade da sala de aula”.
Ao partir desses olhares da Pedagogia Teatral como campo aberto para o exercício da autoexpressão, do jogo criativo, do campo sensível humano, do olhar, do sentir, do conhecimento emancipatório, prazeroso e capaz de provocar mudanças numa realidade posta para estudantes surdos e surdas que fazem parte de uma minoria linguística brasileira marcada pelos estigmas da deficiência e consequentemente excluída, limitada em sua participação na sociedade pelo que hoje chamamos de barreira linguística. No desejo de garantir a esses sujeitos surdos o direito de experienciar o fazer artístico teatral e potencializar as práticas pedagógicas teatrais, ocorre a formação do primeiro grupo de teatro de surd@s de Salvador e da Bahia que se tem conhecimento, até então.
O Grupo de Teatro Perspectivas Sinalizadas (GTPS) nasceu na Associação Educacional Sons no Silêncio (AESOS), em abril de 2009, cujo trabalho é orientado pela professora de teatro Rosenilde Oliveira Pereira, formada em Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Começar a ensinar Teatro para estudantes surdas e surdos e, em seguida, formar um grupo de artistas da cena, tendo na centralidade dessa cena a Libras, tem se configurado como uma sequência de tentativas e erros movida pela crença de que a pessoa surda também tem direito a arte e a esse lugar de autoria no cenário teatral soteropolitano, não somente como fruidores, mas como atores e produtores dessa arte.
Unem-se os conhecimentos da formação acadêmica, as pesquisas e leituras para compreender esse sujeito surdo, os cursos de Libras, no sentido de que ao entender sua história, sua língua e com tentativas e erros, pudesse construir processos de criação que estimulassem sua autonomia, seu olhar observador, sua sensibilidade, sua auto-expressão, sua criatividade, suas habilidades como possíveis produtores de arte.

Em 2009, o grupo nasce com o nome Bando de Teatro Olhos que Ouvem. O nome foi pensado junto com os alunos e as alunas do grupo e também com os professores surdos (Bruno Pedra, Fabíola Barbosa, Lívia Andrade e Rafael Andrade) que trabalhavam na AESOS nessa época.
O primeiro trabalho feito pelo grupo foi o processo criativo QUEM SOU EU?, apresentado em maio de 2010, em comemoração ao aniversário da AESOS. Na sequência, montamos o texto: QUEM VIU O PLANETA MERCÚRIO? (envolveu alunos do Ensino Fundamental I e suas professoras), apresentado na Biblioteca Anísio Teixeira.
Em 2012, construímos o processo criativo ABAPORU, uma releitura de obras da pintora Tarsila do Amaral (esse trabalho contou com a parceria da então professora de Artes Visuais da AESOS na ocasião).
Em 2013, fizemos o espetáculo ANCESTRALIDADE (esse trabalho contou com a parceria de um dos professores de História da AESOS), apresentado no IV Congresso Nacional de Inclusão Social do Negro Surdo, na UNEB e em outros espaços. As fotos desse espetáculo foram uma das exposições do V Congresso Nacional de Inclusão Social do Negro Surdo que ocorreu em 2015 na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2014, LUIZ GONZAGA: O REI DO BAIÃO, desenvolvida em forma de projeto, foi apresentada na AESOS.
Em 2015, a contação de história do Livro UM MISTÉRIO A RESOLVER: O MUNDO DAS BOCAS MEXEDEIRAS, apresentada na I Semana de Arte e Cultura Surda na UFBA e do livro: MINHA MÃE É NEGRA SIM!, apresentada no I Simpósio dos Estudos Surdos e da Libras: conscientização e empoderamento de negros surdos na UFBA e em outros espaços como Escolas da Rede Municipal de Salvador. Nesse processo, o grupo seguia apresentando ANCESTRALIDADE.
Em 2016, O PALHAÇO E A LUA e FEMINICÍDIO: UM DIÁLOGO EM CONSTRUÇÃO, apresentadas no auditório Zélia Gatai na Faculdade Jorge Amado, durante o IV Seminário da AESOS: diálogos contemporâneos da educação dos surdos na diversidade: etnicidade, gênero e subjetividade. CANUDOS (resultado de um projeto interdisciplinar), apresentada na AESOS.
Em 2019/2020, iniciamos o processo criativo BORBOLETAS POÉTICAS (esse trabalho contou com a parceria de uma das professoras de Língua Portuguesa como L2 para surdos e seus alunos do ensino médio), releitura do livro Borboletas Poéticas da autora surda Emiliana Faria Rosa. Esse trabalho foi inscrito no COINES pelo coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa Sons no Silêncio (GEPSS) da AESOS, e foi apresentado e premiado como um dos melhores trabalhos desenvolvidos para a educação da pessoa surda; o espetáculo também foi apresentado na I Semana de Acessibilidade e Cultura Surda no Teatro Jorge Amado. Borboletas Poéticas segue seu percurso criativo no afã de que a pessoa surda baiana continue a conquistar espaços na cena.
No final de 2018, alguns atores e atrizes do grupo começam a levantar questões sobre os sentidos que os mesmos querem dar a arte que faz e, a partir desses diálogos, o grupo passou a se chamar Grupo de Teatro Perspectivas Sinalizadas.

Profa. Esp. Rosenilde Oliveira Pereira
Apresentação: Minha mãe é negra sim!
I Simpósio dos Estudos Surdos e da Libras: conscientização e empoderamento de negros surdos/UFBA

Borboletas Poéticas!
CESBA (Centro de Surdos da Bahia)

Ancestralidade!
IV Congresso Nacional de Inclusão Social do Negro Surdo/UNEB

Borboletas Poéticas!
Semana de Cultura Surda e Acessibilidade/Teatro Jorge Amado

Premiação pelo projeto Borboletas Poéticas!
Instituto Nacional de Educação de Surdos/INES

    O Palhaço e a Lua
Auditório Zélia Gatai/UNIJORGE

                    


           Um mistério a resolver: o mundo das bocas mexedeiras!
IV Seminário da AESOS/UFBA e Escola da Rede Municipal de Salvador

Hino Nacional em Libras



Escrito por: Luã Queirós

Nenhum comentário:

Postar um comentário